Raimundo Jinkings: Arrojo e Ideologia

Publicado em O Liberal, 02/03/1994

          Com mais de 25 anos na profissão de livreiro, Raimundo Jinkings não chegou a ser surpreendido quando lhe foi outorgado, e é fato inédito de um livreiro do Norte, o prêmio "O livreiro Nacional do Ano", em Dezembro passado. Na realidade a livraria Jinkings é símbolo de resistência. Primeiro, porque em um País onde os estabelecimentos comerciais não são estáveis, manter uma livraria é tarefa para poucos, inda mais se tratando do Brasil, que não tem tradição de leitura. Depois, quando o Brasil atravessava o período negro da ditadura militar, Jinkings sobreviveu com a livraria Monteiro Lobato, vendendo inclusive material que o governo considerava subversivo, que gerou a prisão e depoimentos na Polícia Federal, Junto com o seu amigo e sócio, Sandoval Barbosa.


A têmpera de Jinkings é a grande merecedora desse prêmio. A livraria começou com um simples cômodo na casa onde moravam, após a cassação de Jinkings e a perda de emprego no Banco do Brasil. Antes da livraria, quando da cassação, a família foi mobilizada e começou a vender doces na feira da Batista Campos. Jinkings jamais desanimou e se hoje a livraria Jinkings é uma das maiores do norte-nordeste brasileiro, é devido essa tenacidade. Essa levou a ser representante das grandes editoras nacionais, bem como a colocar em Belém, obras que dificilmente chegavam. A maioria das livrarias existentes há 20 anos, apostavam nos livros didáticos.


A livraria é reflexo da ideologia de vida e trabalho de Jinkings. Existe para fomentar a venda de livros e transformar uma simples livraria me um mundo à parte. O tempo encarregou-se de ir se adequando a militância política à vida atual. Raimundo Jinkings não abre mão das suas convicções, nascidas, aliás da leitura das obras de Victor Hugo, quando o sentido da revolta foi nascendo, Jinkings acredita em uma reforma diferente, uma reforma plena e honesta.


"Quando não se investe em livros, a cultura é atingida diretamente pela crise. Ao contrário do que ocorria anteriormente, as noites de autógrafos são vazias se não bem divulgadas. A mídia não era tão determinante. Todo mundo sabia o que ia ocorrer". Jinkings lembra do período quando os debates realizavam-se com freqüência e as livrarias ficavam cheias de pessoas e as conversas iam madrugada inteira com troca de informações. Ali reciclava-se informações. As mordaças da ditadura só faziam com que os versos, as palavras ditas em surdinas, traduzissem toda repressão de um período negro na história do Brasil. Àquela altura passamos fome, mais tínhamos uma luta maior, um silêncio a ser quebrado. Verdades a serem proferidas.


Hoje essas verdades foram sendo esquecidas através de pactos e mais pactos e as opiniões divergem em favor de paixões verdadeiramente indignas. Por paixões dignas, a Jinkings busca a interiorização. "Assim como traremos grandes nomes da nossa literatura à Belém, promovendo os debates e noites de autógrafos, queremos levar os nossos escritores para o interior do Estado, fomentando o gosto pela leitura. Dando condições a pessoas que têm pouca oportunidade de vivenciar essa mágica fantástica que é ler e descobrir o mundo através da leitura".


Jinkings quer que 94 seja o ano da leitura e só vê uma saída para isso, fomentar e aquecer a economia brasileira, dando condições dos livros chegarem às prateleiras, muito mais barato do que vem chegando. "Precisamos de novos empregos, maior poder aquisitivo, e nova política cultural. Para melhorar o mercado do livro, para dar condições de mais leitores, precisamos melhorar o nível de vida do brasileiro".


Uma novela atualmente, mostra ama personagem que busca crescer através do conhecimento, através da leitura, esse comportamento, esse valor, anda meio esquecido.


Com o prêmio que lhe foi outorgado pela associação nacional do livro, Raimundo Jinkings crê que o reconhecimento faz alguma diferença. Simples não acredita em grandes mudanças, mais crê isso lhe da condições de vivenciar melhor essas experiências fantásticas. Uma das quais, talvez a melhor, é, ao fim de um dia de trabalho, andar na livraria, ver as pessoas comprando e ir conversando com um, com outro, discutindo os problemas nacionais, analisando soluções, rindo de piadas. E fica a persistência que enfrentou a ditadura, as crises com coragem e muita força de vontade. Persistência digna de um poema de Brecht. Aquele que fala dos imprescindíveis.


Claudio de La Roque Leal
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A Livraria Jinkings, fundada por RAJinkings, em 1965, considerada a livraria mais importante do Norte e Nordeste. Em 1994, Raimundo Jinkings foi eleito nacionalmente como Livreiro do Ano. Fecha as portas, em 2010, após 45 anos, reconhecida a sua importância pela intelectualidade paraense. Muitos expõe nos espaços disponíveis a sua gratidão a Raimundo Jinkings.

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Aqui você tem acesso ao Blog da Livraria Jinkings, memória da Livraria e da loja virtual desenvolvida pela Dinâmica. Além de pioneira, a jinkings.com.br se destaca pela interatividade com o leitor e, com anos à frente, extrapolando o comercio de livros e oferecendo serviços e informações, joguinhos, sugestões, livros inteiros virtuais para as crianças da Livrariazinha, lendas amazônicas, enfim.

por Cassio Barbosa Sader disse...

    Ivana, Leila,
    Parabéns!
    Emocionante!
    Sigamos pelos novos caminhos, com a mesma força!
    Beijo, Cassio.

    3 de julho de 2010 21:09

Anônimo
Muito lindo e emocionante, Leila.
Um beijo.
Emir
Vladimir Cunha disse...
O filho do rato Alejandro Jodorowsky é o cara. Eu tinha uns nove anos quando meu pai me levou à livraria Jinkings e disse para eu escolher o que quisesse. Fui direto à sessão de quadrinhos. Em plena Ditadura, o velho Jinkings contrabandeava livros de esquerda em meio a caixas de insuspeitos quadrinhos europeus publicados em Portugal. O cara tinha as manhas. Enfiava traduções em espanhol e português de livros do Marx, Engels, Trostky e Mao no meio de álbuns de gente como Moebius, Druillet, Phillipe Caza, Enki Bilal, Quino, Palomo, Plantu e outros grandes nomes das HQs do Velho Mundo. Meu pai comprava os Marx e companhia. Eu ficava com os quadrinhos. Coisa que, aliás, fez eu desenvolver um dialeto meio esquisito com o passar do tempo de tanto ler histórias naquele português estranho. Foi numa dessas idas à livraria do Jinkings que peguei para folhear um álbum de capa amarela: O Incal Negro - Uma Aventura de John Difool. Não fazia idéia do que era um Incal, mas o livro vinha com o nome de Moebius na capa, que eu curtia das séries Tenente Blueberry e A Garagem Hermética. Foi o suficiente para levá-lo para a casa. E junto com Moebius acabei levando também Alejandro Jodorowsky. As coisas nunca mais foram as mesmas. íntegra aqui: http://raimundojinkings.blogspot.com/2007/11/camuflagem.html
25 de junho de 2010 12:33
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Anônimo Lauande disse...
(...) Como amigo do Jinkings e militante comunista, luto com milhares democratas constantemente para garantir o respeito às opiniões contrárias e fortalecimento da democracia, o melhor regime entre todos. Que atitudes de prepotência e práticas ditatoriais fiquem apenas nos livros de história e nunca mais se repitam em nossa terra. E muitas saudades do meu amigo e camarada Jinkings!!! Aquele abraço, Lauande. http://raimundojinkings.blogspot.com/2007/11/lauande-homenageia-jinkings.html
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Anônimo Isa disse...
Raimundo Antônio da Costa Jinkings nasceu, em 05 de setembro de 1927, no que era na época um pequeno povoado, Curumim distrito do município de Santa Helena, banhado pelo rio Turiaçu, no Maranhão. Teve infância pobre, trabalhou desde menino, aprendeu diversos ofícios enquanto aprendia, com o pai, as primeiras letras. Mal entrava na adolescência quando, na sua avidez de saber, em meio aos pertences de seu pai, descobriu e leu o livro do filósofo alemão Schopenhauer, “As dores do mundo”. Estranho e inexplicável: através de que meios teria ido parar Schopenhauer naquele cantinho do mundo?. Aquela leitura foi o prenúncio de um vida que, toda ela, seria dedicada a lutar exatamente contra as dores do mundo, contra a injustiça, pela liberdade. Sua paixão pela liberdade o conduziu ao Socialismo. Esse texto foi postado por Isa Jinkings no sítio da Livraria Jinkings. (www.jinkings.com.br, temporariamente fora da rede). Um dos primeiros sites de livraria no Brasil, criado no início dos anos 1990.
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Anônimo Odilardo disse...
Caríssimos! Parabenizo-os pela inovação, criatividade, compromisso como o saber/fazer na área fundamental para a expressão da liberdade/dignidade da pessoa humana e seu ambiente: o livro e a manifestação cultural!... Muito belo com o iniciar-se dos pequerruchos! O "velho", permitam-me o tratamento (é solene e deslumbrado) não é lição, mas semente, sim, que ressurge em cada um que, de alguma forma, sente a livraria e faz dela um eterno caminhar, prazeroso e combativo. Sua história representa, sim, "aquele que é indispensável", da cantiga heróica de Brecht. O conheci, altivo, numa das celas contígua na qual eu me encontrava com outros companheiros, principalmente os históricos, do quartel do Batalhão de Selva aqui de Macapá, nos idos negros do Médici. Eu era estudante e me iniciava no radiojornalismo da Diocese, focada na teologia da libertação. Depois conheci a Fortaleza de Macapá e o Forte do Castelo. Ali mesmo, ele transparecia o combatente lúcido e generoso. Fico grato e entusiasmado com a correspondência de vocês, mais uma vez parabéns e aguardo segurar o relacionamento. Breve falarei sobre um projeto biblioteca - BIBLIOL, que estamos montando para socializar o acervo de nossa pequena biblioteca pessoal, a partir de atividades sócio-culturais. Muito grato. Odilardo Lima E-mail recebido em 02/junho/2002.
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Anônimo BOLETIM HSLIBERAL disse...
AOS CAROS EDITORES DO BLOG RAIMUNDO JINKINGS MINHAS CONGRATULAÇÕES PELA ATUALIZAÇÃO GRÁFICA E PELA MATÉRIA SOBRE A LIVRARIA JINKINGS. FRUTO DÂ EXEMPLAR HISTÓRIA DE LUTAS DO SEU PATRONO CUJO FOCO SEMPRE FOI O FUTURO. O NOVO FORMATO PERMITE PARTICIPAÇÃO DOS LEITORES E MERECE MAIOR DIVULAGAÇÃO. SAUDAÇÕES.
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Anônimo Bertelli disse...
From: Bertelli To: Lista_Bertelli Mailing List Sent: Friday, June 25, 2010 8:21 AM Subject: [Lista_Bertelli] - Livraria Jinkings Prezados: uma homenagem cheia de alegria e, ao mesmo tempo, com um grande pesar. Mais uma que fecha.É uma pena. Todavia, cumpriu um importante e belo papel. Camarada Raimundo Jinkings, presente!!! Saudações. Bertelli
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Anônimo Aline de Mello Brandão disse...
(...) Partilhando a liberdade. Belém do Pará, saudosa, Trouxe à tua casa, a Poesia Revestindo a livraria Com uma luz preciosa Que tua alma talentosa Com clareza, construiu. Teus cabelos prateados, glorioso camarada Ornam a foto emoldurada Lembrando os sons soletrados Do coração com teu povo, Com tuas gentes, Raimundo. Não trago nada de novo: Velho carinho bem fundo E um punhado de sins No poema sem festins. Jinkings, Raimundo, livreiro, Acendi o candeeiro A teu nome, companheiro E assino a data: janeiro Início de calendário, Véspera de aniversário De Belém, como convém. Muitos devem muito a ti À tua luta madura À derradeira ternura Forjando da noite escura A certeza que se aclara E que o verbo escancara. Vivos, erguemos a voz Trazendo a garganta aberta E a memória bem desperta Nesta ciranda veloz Nesta ciranda de paz Nesta ciranda que faz Nesta ciranda que traz A liberdade até nós.

Euvaldo Cotinguiba Gomes disse: "Olá todos,
Infelizmente temos que ler e escutar asneiras de pessoas totalmente (ig)norantes sobre a realidade de mercado em que nos encontramos, triste ler argumentos relacionados a preços e modernização quando se discute o encerramento de uma atividade como a dos pequenos livreiros espalhados pelo Brasil. A realidade de fechamento de livrarias pelo Brasil vem acontecendo há anos e somente os mais resistentes tem aguentado a situação a que estamos impostos. As grandes redes concedem descontos porque exigem dos editores descontos exorbitantes, impõem ao mercado um preço de capa distorcido, pois exigem daqueles que se sujeitam a lhes fornecer descontos mínimos em torno de 50% a 60% para que possam financiar sua disputa de mercado desleal com os pequenos, temos de 20% a 40% no máximo. Como competiremos se temos situações tão diferentes? Como podemos disputar com quem tem seus negócios financiados por grandes bancos nacionais enquanto não conseguimos créditos mínimos para o fluxo de caixa se quer? Como enfrentaremos a ditadura do mercado e dos "best books" feitos para vender milhões e emburrecerem cada vez mais os desavisados que os lêem?
Abraços aos resistentes da Jinkings"
Comentário postado em 29/06 Terça-feira às 11:03h

Raimundo Costa disse: Comentário postado em 24/06 Quinta-feira às 16:23h "É realmente uma pena para Belém, a Jinkings fechar. Eles fizeram uma reforma e até abriram (acho que no ano passado ou em 2008) um belíssimo e romântico café, onde faziam uns saraus literários muito interessantes, que frequentei umas três ou quatro vezes. Enfim, tentaram... Mas o público prefere mesmo é comprar porcarias; os livros - e a cultura - ficam sempre em último plano.
A Jinkings vai fazer falta, se fechar mesmo.
Comentário postado em 24/06 Quinta-feira às 16:23h

" Julio Baptista disse: Comentário postado em 23/06 Quarta-feira às 19:46h "Uma pena a Livraria Jinkings fechar. Como D. Isa disse, gerações se alimentaram dos livros, que eram generosamente parcelados. Uma pena que as livrarias tradicionais, criadas por intelectuais importantes como o Jinkings, tenham dado lugar aos supermercados repletos de bobagens. A Jinkings ficará para a história, os oportunistas passarão, lembrando o poeta Mario Quintana. Saudações, dona Isa!"
Comentário postado em 23/06 Quarta-feira às 19:46h

Fábio disse: Comentário postado em 20/06 Domingo às 10:46h
"É realmente triste ver que um pedaço de nossa hstória se vai. Outras boas livrarias infelizmente não resistiram aos novos tempos como a Nossa Livraria e a Ponto e Vírgula onde sempre encontrávamos mais que os livros, os amigos que também tinham o mesmo (bom) vício da leitura. Lembro-me da vanguarda da livraria Jinkings que me proporcionou adquirir livros de Engenharia de origem russa escritos em língua espanhola e tantos outros livros que ainda me acompanham até hoje. Já fui por lá neste período de desconto salvar alguns amigos (livros) deste destino triste. Agradeço, em nome dos apaixonados pela leitura em Belem, à Dona Isa e ao Seu Raimundo Jinkings pela vida de dedicação a esta causa nobre. 

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